Páginas

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Liberdade ainda que instantânea

Você já sentiu o sabor da liberdade? Difícil essa pergunta, mas eu a reformularei, você já fez um salto mortal? É, melhorou. Essa será a minha primeira tentativa frustrada – não, mortal eu já fiz – de descrever a sensação ao executar um salto desses, por mais simples que ele seja.

Desafiar os próprios limites é uma coisa interessante, porém saltar é algo que transcende isso: articular chute, estufar o peito, inclinar a cabeça até encostar o queixo no esterno, impulsionar o corpo para cima com apenas um dos pés, manter as mãos longe do chão e preparar a perna para cair ereto. Não são tarefas fáceis, entretanto não são tão complexas também.

Saltar é quebrar o acordo firmado com o relógio do tempo, é desobedecer o relógio da vida, é driblar o cárcere social, é libertar-se de maneira instantânea de tudo que te prende ao chão, é impulsionar-se de encontro ao ar sem que nada te impeça. Não precisa pegar filas, pagar impostos, pedir permissão ou subordinar-se a alguém. Trata-se de um encontro consigo mesmo no qual o tempo parece congelar. Nesse instante há uma ruptura com os ponteiros, que sucumbem diante do corpo suspenso no ar, permitindo a sensação de liberdade.

Lembro que os primeiro mortais que fiz , devia ter uns dez anos, foram de cima de um paralelepípedo, em frente ao bar do Roberto, numa esquina na qual os meninos juntavam um pouco de areia, ora roubada de um depósito que ficava ao lado do lugar onde treinávamos, ora adquirida através de um rateio, feito por eles, para comprar uns saquinhos da substância mineral em grânulos e restituir a quantidade que havia sido levada pela chuva, espalhada pelos cachorros ou roubada novamente. Mas eu nunca os ajudei nesses rateios, mesmo usufruindo bastante da areia, gostava era de ir tomá-la emprestada no depósito. Era muito mais divertido e de graça. Graça e diversão eram duas coisas muito parecidas naquele tempo.

Dizem que os pássaros são livres por possuírem a habilidade de voar. Eu ainda não consegui fazer isso e acho que nunca conseguirei. Estou falando de ser livre; pois voar é algo que está ao nosso alcance. Já a liberdade, isso é outra história. No entanto quando salto, os poucos segundos ou milésimos que fico no ar, consigo sentir essa sensação que, talvez, os pássaros tenham ao voar, embora hajam alguns seres da minha espécie que os prendam em gaiolas – pura inveja – por não serem livres iguais a eles. Afinal como eu já disse anteriormente, na sociedade em que vivemos está mais fácil voar do que conseguir a liberdade, mesmo que instantânea. 

2 comentários:

  1. Esse trecho é foda: ''...essa sensação que, talvez, os pássaros tenham ao voar, embora hajam alguns seres da minha espécie que os prendam em gaiolas – pura inveja – por não serem livres iguais a eles. Afinal como eu já disse anteriormente, na sociedade em que vivemos está mais fácil voar do que conseguir a liberdade, mesmo que instantânea.'' :)

    ResponderExcluir
  2. Legal Maura, fico feliz que tenha gostado ou achado foda. rs

    Beijo

    ResponderExcluir